Na última semana， muito se comentou sobre a expressiva queda no número de leitores no Brasil. Walter Porto， nosso editor de livros， escreveu para a Folha quebet tigre 777， de acordo com os dados levantados pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil， entre 2019 e 2024， perdemos 6，7 milhões de leitores e que， pela primeira vez， pessoas que não costumam ler são maioria em nosso país.

Igualmente， em entrevista para o podcast O Assunto， a socióloga Zoara Failla， coordenadora da pesquisa， comentou alguns dos fatores que nos levaram a perder tantos leitores nos últimos anos， ressaltando questões relacionadas à pandemia e ao uso excessivo de redes sociais durante os nossos momentos de lazer e descontração.

Como professora， sempre comento com os meus alunos que a leitura é um exercício e， como todo exercício， pode ser prazeroso， mas dá trabalho， exige disciplina e， principalmente， paciência para lidar com toda a sorte de obstáculos e frustrações.

Essa é uma lição que tirei da minha própria vida. Cresci em uma casa com biblioteca， uma avó bilíngue e um pai que costumava ler artigos de jornal em voz alta durante os cafés da manhã. Algumas das minhas primeiras lembranças estão relacionadas ao universo da leitura， como o hábito que os meus pais tinham de levar com eles um livro ou um jornal durante as nossas caminhadas de final de semana pelas ruas do Recife.

Fui uma criança que frequentou livrarias， teve livros desde cedo e escutou histórias antes de dormir. Mas， apesar de todos esses estímulos， também fui uma criança que demorou para finalmente gostar de ler. Sei disso porque o meu pai costumava me chamar a atenção dizendo que， na minha idade， ele já tinha lido muito mais coisa que eu. O que， embora fosse verdade e ele sempre dissesse isso em tom de incentivo， acabava me incomodando a ponto de me fazer acreditar que eu jamais conseguiria ler tanto quanto ele.

O meu pai foi o grande herói da minha infância， portanto a nossa relação nunca foi tranquila. Tudo o que ele fazia， eu também queria fazer igual ou melhor e， embora o espírito de competição que existia entre nós fosse saudável —Freud explica!—， eu nunca parei para pensar que， talvez， aos 6 ou 7 anos eu não devesse me comparar com alguém 30 anos mais velho. No entanto， foi justamente isso o que aconteceu.

Passei boa parte da infância frustrada comigo mesma por não conseguir ler tanto ou tão bem quanto o meu pai. Por conta disso， acabei negligenciando a leitura e dei preferência às brincadeiras no quintal da minha avó.

O meu pai reclamava， a minha mãe fazia de tudo para conseguir que eu parasse quieta dentro de casa e lesse pelo menos alguma coisa， mas o que eu realmente queria era subir em árvorebet tigre 777， pular muro， tomar suco de pitanga com a vizinha e me equilibrar no telhado da varanda para avistar ao longe o sino da igreja da Torre， desafiando aquilo que eu achava ser o ponto mais alto do nosso bairro.

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